sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Meu avô me contou que...

...Sempre foi um homem muito pacífico, como seu pai, ambos pacíficos até que a discussão não terminasse em acordo. Certa feita quando ainda namorava minha avó ele foi a um baile na campanha, dos mais simples e mais tradicionais de que se possa falar, em um salão com paredes de madeira, chão batido e com o estacionamento lotado, de cavalos, claro. O dono do salão e por consequência da copa, se chamava Merêncio, homem igualmente pacífico, enquanto sóbrio, complicador quando no álcool, o que segundo meu avô era o de costume. Os amigos de meu avô tinham fama de brigões, mas todos claro, pacíficos. Dentre esses rapazes se destacava Alvarim, que não levava desaforo nenhum para casa. Por estar com minha avó, sua namorada meu avô que se chama Horizonte, fugia das confusões. Sabendo disso um amigo seu veio fazer o convite:
- Olha Horizonte, vamos embora porque daqui a pouco vai sair briga!
- Mas por que rapaz? - perguntou meu avô desacreditado na possibilidade de uma peleia devido a tranqüilidade da sala.
- Tchê, o Merêncio tá bêbado e tá inticando com todo mundo que vai lá na copa.
- Bom, eu vou te provar que não vai sair briga, vou lá na copa comprar uma branquinha! - Dito isto meu avô deixou minha avó aos cuidados do amigo e foi na tal copa com toda a tranquilidade que é uma característica sua.
Passado um tempo voltou ele um tanto alterado e disse:
- Vamos embora Rosa, que agora sim vai sair briga!
- Ah então tu concorda comigo agora Horizonte - rebateu seu amigo
- É que agora o Merêncio inventou de discutir com o Alvarim!
Dito e feito, meu avô descia a coxilha a cavalo com minha avó ao som dos facões e revolveres dentro da sala. Contou-lhe o Alvarim no outro dia, com a cabeça seqüelada da porretada que levara da filha do Merêncio, que aquele teria de achar uma boa costureira por que o número de pontos que o vivente leva para fechar um corte da orelha até o queixo não deve ser pouco.
Meu avô que é um homem pacífico assim como seus amigos, contou-me outras histórias, que aos poucos vou tentar digitalizar neste caderno dos contos.

Nenhum comentário: