quinta-feira, 15 de maio de 2008

Devaneios de um cavalinho..

Em uma dessas estâncias, que dispendem distâncias, havia um cavalinho pensador, não como gente, mas pensador lá na sua cabecinha eqüina, talvez por obra divina, ele desenvolvera o raciocínio consciente.
Sua rotina era a de um trabalhador. Antes de nascer o sol ele já recebia as encilhas em seu lombo, seguido logo do peso de seu dono que o tratava até bem. Por este ele sentia um grande afeto, exceto quando em serviço sentia o arder de um laçaço ou das esporas cravando em sua pele. Mas como era um cavalo forte aguentava firme. Ao fim dos dias de trabalho no campo, percorrendo longas distâncias, sua recompensa era uma boa passada no paço da sangua onde matava sua sede, seguida da desencilha logo depois.
Os anos se passaram assim, ele trabalhando sempre, folgando aos dias de chuva ou quando o seu dono deixava a estância por alguns dias, e com o passar dos anos ele foi perdendo o seu vigor, mas como um cavalinho pensador ele sabia disso e dava o seu melhor, indo aos limites de sua resistência.
Um dia ele não agüentou. Caiu.
Ele sabia que seu ciclo estava acabando, ele não seria mais útil para o trabalho, talvez ficasse solto no campo para que pudesse padecer livre onde trabalhara a vida toda servindo ao homem. Talvez. Na última vez que o cavalinho pensador viu seu dono este estava em frente a casa contando as notas da última venda. O velho caminhão costurava as coxilhas carregado de pensamentos.