terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A Janela do Tempo...

A netinha estava eufórica. Viajar para a casa da avó era seu presente após a conclusão da primeira série da escola.
Sua mãe a colocou no ônibus das 7:00 horas, com chegada prevista na cidadezinha vizinha em torno de 9:00 horas. Precisamente, as 9:00 lá estava ela recebendo um abraço apertado da sua avó que já a esperava há mais de meia hora, que era por garantia. A senhora usava um vestido florido, longo, era magra, tinha cabelos brancos e rosto rude, mas um coração derretido pela jovem presença em seu lar com tão pouca vida e cor. O marido, que fora empregado na rede ferroviária por muitos anos havia sofrido um acidente de trabalho e não saía mais da cama. A netinha apertava forte a mão do avô, que observava o semblante gracioso da jovem com sorriso verdadeiro de dentinhos pequeninos e olhos expressivos completando a beleza do rostinho infantil, coberto por lisos cabelos castanhos que chegavam até seu ombro.
- Laurinha, deixa teu avô descançar querida, vem que a vó vai te dar um cafezinho com doce do jeito que tu gosta! - E dessa maneira os dias foram passando, com atividades diversificadas, como visita as senhoras amigas de sua avó, curso de crochê, passeios pelo parque e o auxilio que dava a velha senhora para cuidar da saúde do avô.
Numa tarde após o almoço e a limpeza da cozinha sua avó quis dormir um pouco para repor as energias.
Laurinha quis ler. A biblioteca que o avô cultivara possuía volumes que variavam entre metafísica a contos de fada. Um luxo cultivado com carinho pelo bom homem. Mas um luxo com um ar de mistério, prateleiras lotadas de livros em uma sala pouco iluminada.
A menina bastante curiosa folhava todos quantos podia até que viu uma coleção, que não sabia de que era, mas pela aparência despertou sua atenção. Dez volumes em capa dura, azuis e bem preservados, mas sem indicação do título na capa. Resolveu então tirá-los da prateleira e investigar a respeito de que o livro falava. Após tirar todos os livros Laurinha percebeu que havia uma janela escondida atrás da prateleira, que foi parcialmente mostrada com a retirada dos volumes. Ela sabia que atrás daquela parede havia uma velha peça onde sua avó guardava entulhos do dia-a-dia e que não queria que ninguém entrasse.
Curiosidade.
Tirou mais livros, revelando toda a janela, abria para fora, mas estava cadeada. Lembrou de um chaveiro que seu avô carregava sempre pendurado no cinto e que agora repousava sobre um prego ao lado da porta da cozinha. Acertou, uma das chaves era mesmo daquele cadeado. teve receio de empurrar a as folhas da janela, pois poderia derrubar algo que estivesse na salinha ao lado. Mas o fez com calma, e surpreendeu-se muito ao sentir o sol banhando seu rosto. Abriu enfim toda a janela, e viu a coisa mais impressionante que seus olhinhos já haviam visto. A rua não estava mais pavimentada, nem mesmo havia calçada em frente a casa de sua avó, o que havia era uma rua de chão batido com crianças disputando espaço em um jogo de futebol, meninos e meninas vestidos todos com roupinhas de gente grande. Olhou para a porta da biblioteca para certificar-se de que sua avó não a encontraria fazendo arte. Ao avistar um grupo de menininhas, como ela, pulou a janela para ir ao seu encontro.
A senhora acordou as 14:25, foi na cozinha, bebeu água enquanto assistia carros ritmados na rua em frente a sua casa. Caminhou até o banheiro e no caminho viu a bagunça na biblioteca, a janela aberta. Intrigou-se mas apenas fechou-a sem muitos questionamentos. Ouviu a campanhia.
pelo olho mágico viu sua velha amiga que há décadas não via pois havia partido em busca de seus parentes, após um trauma na infância quando perdeu-se. A velha senhora animou-se com a visita!
-Laura! Meu Deus que alegria em te ver!
Quando recebeu um abraço forte desta senhora
-Vó, quanta saudade da senhora!
-Que isso Laura, estou tão mais velha assim que tu?

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