sexta-feira, 25 de junho de 2010

when your head is haunted by things you just don't know...

Cegueira

Muitas vezes na vida eu, Desidério, brinquei de fechar os olhos por algum tempo e sair por aí caminhando. Na infância eu considerava este ato como um treinamento ninja, que por sinal era minha profissão preferida, muito embora eu não estivesse a par da remuneração nem dos benefícios (vai que a classe não possuísse plano dentário, vale transporte e outras coisitas mais) eu sabia que só pelo fato de vestir aquela roupa com máscara e jogar estrelas nos inimigos já valeria a pena. Mas enfim, continuando, como parte desse meu treinamento ninja, passava horas a fio com os olhos cerrados caminhando pela casa, tocava cada objeto, tentava visualizá-lo com a mente. Em pouco tempo eu conhecia a posição de cada um deles na casa. Não raro para impressionar alguma visita eu vestia uma touca, puxando-a até o queixo é claro, e corria pela casa, pasmem, sem tocar em nada. Tudo nessa vida pode ser treinado, tudo pode ser coordenado e também, dependendo dos interesses, descoordenado. O fato é que, mesmo sendo tão treinado para aquilo, minha cegueira ninja foi a vilã quando minha mãe resolveu comprar uma mesa de centro, de mármore. A maldita densidade do mármore. A maldita falta de comunicação em minha casa. Como que uma mãe compra um móvel, se é que uma mesa de centro é um móvel, e não avisa o filho?
Hoje, um tanto mais velho, já recuperado, porém de olhos bem abertos, eu descobri que há um outro tipo de cegueira, que não a ninja nem a científica. É a cegueira do coração. Esta sim, é vilã, sem choro nem ais, porque ela engana a favor e contra. Porém ambos os casos lidam com o verbo enganar.
Ela (pessoa e não a cegueira) desconfia de algo que diz que fiz, porém se houve mesmo algo de desrespeitoso em minha atitude, foi para comigo mesmo, por tentar a todo momento deixar claro o que o meu coração queria dizer. Este, certamente afetado pela primeira cegueira, aquela a favor, não sei bem de que. Já ela, afetou-se pela segunda, a contra, pois esbravejou os mais desrespeitosos impropérios sem fundamentação alguma, fazendo com que, tudo o que disse hoje a tarde olhando em seu olho valesse tanto ou menos que a tachinha enferrujada que está cravada no meu tênis há cerca de cinco meses.
Esse meu ensaio sobre a cegueira, diferende daquele de Saramago, é algo bem recorrente. Estejam atentos e de olhos abertos.

Desidério