segunda-feira, 11 de maio de 2009

O Re-Encontro

-Olá, que bom que vieram, Sílvia e Júlio, vamos entrando!
Comentei com o César hoje a tarde que acreditava na sua presença!
-Fiz um esforço, não é todo dia que a gente reúne a velha guarda, não é mesmo?
-É verdade, uma pena o que houve com o Rubens e a Cristina.
-Pois nem me fale, a Sílvia e eu ficamos presos nos serviços e não pudemos nem ir ao velório!
-Notei, o César ainda está meio abalado, foi bom vocês terem vindo. César, veja quem chegou!

-Pois bem, não posso deixar de elogiar, Ana, você continua preparando um jantar excelente, vocÊ é que tem sorte César!
-Ah que é isso Júlio, aposto que a Sílvia também continua te tratando muito bem, você está até corado.
-Com certeza, minha Sílvia cuida bem de mim, mas os dois sentimos muita falta de nossas reuniões do clube dos mistérios.
-Nós também, principalmente quando éramos, Rubens, Cristina, Você, Sílvia, Ana e Eu. Bons tempos!
-Será que estamos muito enferrujados?
-Não sei, só testando para tirar a prova.
-Então vou tirar. Soube essa história por um amigo nosso lá de onde estamos morando, ele disse que uma vez há uns cinco ou seis anos atrás, no dia de finados foi ao cemitério da cidade prestar homenagens a seus entes falecidos, havia muita gente circulando, algumas pessoas levaram até cadeiras para em frente às capelinhas encontrarem os parentes para conversar um pouco, mais parecia, me disse ele, uma quermesse. E em meio a todo esse burburinho havia um menino vendendo paçoquinhas, vestindo suspensório, em calças curtas, uma camisa amarrotada, mas limpa, e uma boina. Além da vestimenta, o que mais chamou a atenção de nosso amigo, foi que ninguém dava ouvidos ao garoto que oferecia humildemente as paçoquinhas caseiras. Resolveu ele então interceprá-lo para comprar algumas, afinal de contas o menininho merecia ter seu esforço validado de alguma forma. Assim o fez. Chamou o menino que prontamente foi a seu encontro. Nosso amigo então deu a ele uma nota de dez, e disse, me dá tudo que puder com esse valor. Ficou muito surpreso pois o menino fez cara feia e disse que aquele dinheiro nada valia, e ironicamente agradecendo pelo tempo perdido virou as costas e se encaminhou para uma capela com as portas abertas, uma das mais lotadas. Meu amigo não se conformou, mais do que indignado, ficou muito curioso com aquela atitude, afinal ele queria ou não vender? Depois de negar um cliente, foi à capela lotada de certo tentar vender, mas isso era incoerente. Ele não se conteve e foi em direção à capela conversar com o menino. Havia várias pessoas em frente à capelinha, algumas em pé, outras sentadas, e duas moças fazendo a limpeza externa, de vidros, azulejos, ajeitando as novas flores em seus vasos, essas coisas. 
Ele então chegou de mansinho, foi pedindo licensa e entrou na capela. teve uma surpresa ainda maior quando viu que dentro dela só havia uma senhora acendendo velas.
Ela lhe perguntou o que desejava, ele disse que procurava alguém, mas que por certo havia se enganado, ela disse, pois não, e se abaixou mais uma vez para terminar de acender as velas. Foi quando nosso amigo pôde perceber que o menino de fato estava dentro da capelinha, não como ele o procurava, e sim em uma foto emoldurada na parede. Perguntou à senhora o que ela era do menino. Ela disse se tratar de seu irmão. Meu amigo descrente disse: não pode ser seu irmão senhora, há muita diferença de idade entre vocês dois. Ela riu e disse: filho ele era meu irmão mais velho, quando nasci em 1913, tinha um grave problema de saúde, nossa mãe que era viúva teve de largar o emprego para cuidar de mim, meu irmão que já era crescidinho nos sustentava vendendo paçoquinhas na estação de trem, e foi ele quem juntou o dinheiro para que eu pudesse ser operada, e enfim viver saudável, mas o destino quis que eu me salvasse e ele não, aos dez anos ele morreu de pneumonia, e desde então mantenho a capelinha dele bem cuidada, assim como o fazem meus filhos e netos aí fora.
Nosso amigo estático disse a ela que havia visto o menino e a velha senhora sorriu e balançou a cabeça como a lamentar e lhe disse: pobre Mário, sempre me tratando como a maninha doente!

-Nossa Júlio, estou toda arrepiada!
-Não é só você Ana, quando o amigo do Júlio foi lá em casa nos contar eu também fiquei louca de medo!
-Pois eu estou entusiasmado, acho que nosso clube ainda tem futuro, apesar do desfalque irreparável. Mas tenho também uma história, ouvi de um cara na barbearia.
-Está esperando o que para contar César?
-Lá vai então.

Aconteceu há pouco tempo também, segundo o tal cara.
Quando veio morar aqui nessa cidade, alugou um apartamento naquele prédio velho da outra rua, no sétimo andar, ap. 70.
Na primeira semana tudo estava uma bagunça, por conta da mudança e do período de adaptação que necessitava para a nova morada. Mas em pouco tempo conseguiu organizar tudo e sua rotina foi restabelecida. Porém, notou que algumas vezes ao fim do dia quando retornava para casa, algumas coisas estavam desorganizadas. Não que isso fosse grande problema, mas é que ele morava sozinho e toda vez nem com grande esforço lembrava de tê-las desorganizado.
Começou a achar que a mudança lhe havia causado estresse, e que uma festinha seria uma boa. convidou alguns amigos, comprou bebidas, pizza, essas coisas de festa particular. Estavam todos reunidos quando um deles entusiasmado gritou. O cara então pediu que não fizesse tanto barulho, pois iriam acordar a menininha. Que menininha? todos questionavam. Ele rindo disse que estava brincando. Todos foram embora, estava tarde. O cara se deitou e antes de adormecer, como um flash, viu uma menina, loira de vestido branco, descalça, rindo.
Acordou e a janela de seu quarto estava entreaberta, ele agradecia por ser final de semana, pois para esquecer a janela assim a bebedeira deveria mesmo ter sido grande. Caminhou até o banheiro e viu que o apartamento estava uma zona. Com um pouco de ressaca ele decidiu chamar a faxineira do prédio, que cobrava baratinho pela limpeza. Enquanto ela limpava, ele assistia à televisão. Entre um programa e outro levantava e olhava pela sacada. Numa dessas, debruçado nela, foi surpreendido pela faxineira que disse: cuidado rapaz, daí já caiu uma menina, os pais se descuidaram e ela caiu, tentando segurar um balão que o vento carregava.
O cara disse que levou um grande susto com tamanha coincidência e disse: mas como? quando?
Olha, disse a faxineira, há muitos anos, na verdade eles foram os primeiros proprietários desse apartamento. No salão de festas tem uma foto da família. 
O tal cara correu para o salão, e qual não foi a surpresa, era a menina do flash.

-Nossa César, outra grande história!
-E esse tal cara quem é?
-Sei lá, um sujeito na barbearia, não o conheço. Esperem, alguém bateu na porta, vou ver quem é.
-Rubens? Cristina?